Freire, Fermento Entre os Oprimidos: Continua Sendo?
DOI:
https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2021u801830Palavras-chave:
Paulo Freire, PLACTS, Diálogo de saberes, Agenda do oprimido, Pedagogia do oprimido, Educação do campoResumo
Freire busca colocar os oprimidos no palco da história. Contudo, uma efetiva emersão, enquanto sujeitos históricos, fica fragilizada considerando que há uma incompletude: suas demandas continuam sendo, majoritariamente, trabalhadas pelos conhecimentos e práticas demandadas pelos opressores. Está frágil, em Freire, a compreensão de que conhecimentos e práticas hospedam valores. Teorização resultante de aproximação entre Freire e o Pensamento Latino-americano em Ciência-Tecnologia-Sociedade (PLACTS) busca trabalhar essa incompletude. Assim, quais desafios e possibilidades, relacionadas a essa dinâmica teórico-metodológica, colocam-se quando dialogam processos produtivos e educativos? Exemplar de uma práxis, implementada no contexto da produção de alimentos segundo princípios da agroecologia, é analisada. Dessa reflexão conclui-se pela necessidade de, para superar incompletude apontada, ampliar a categoria diálogo, de Freire, para diálogo de saberes no qual dialogam três campos: os denominados conhecimentos produzidos historicamente, os conhecimentos inéditos (resultantes do enfrentamento de demandas situadas entre os oprimidos, ignoradas historicamente) e a memória biocultural. Desse processo, surgem duas novas categorias ainda incipientes: coprodução e coaprendizagem, as quais, sinalizando novos horizontes para processos produtivos e educativos, nutrem-se do diálogo entre ambos. Diálogo entre agenda de pesquisa do oprimido e pedagogia do oprimido.
Downloads
Referências
Altieri, M. (2012). Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável (3ª ed.). Expressão Popular.
Angotti, J. A. P. (1982). Solução Alternativa para a Formação de Professores de Ciências — um projeto educacional desnvolvido na Guine-Bissau (Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo).
Angotti, J. A. & Delizoicov, D. (1990). Física. Cortez.
Archanjo Junior, M. G. de & Gehlen, S. T. (2020). A Tecnologia Social e sua contribuição para a Educação em Ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 20(u), 345–374. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2020u345374
Auler, D. (2002). Interações entre Ciência-Tecnologia-Sociedade no Contexto da Formação de Professores de Ciências (Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina). Repositório Institucional da UFSC. http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/82610
Auler, D. (2007). Enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade: pressupostos para o contexto brasileiro. Ciência & Ensino, 1(número especial), 1–20.
Auler, D. (2018). Cuidado! Um cavalo viciado tende a voltar para o mesmo lugar. Appris.
Auler, D., & Delizoicov, D. (2006). Ciência-Tecnologia-Sociedade: relações estabelecidas por professores de ciências. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 5(2), 337–355.
Auler, D., & Delizoicov, D. (2015). Investigação de temas CTS no contexto do pensamento latino-americano. Linhas Críticas, 21(45), 275–296. https://doi.org/10.26512/lc.v21i45.4525
Auler, N. M. F., & Auler, D. (2015). Conceber e Executar Currículos: ampliando o processo formativo de educadores(as). In N. M. F. Auler & D. Auler (Orgs.), Concepção e execução de currículo no processo formativo de Licenciandos do PIBID (pp. 13–42). CRV.
Braverman, H. (1987). Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX (3ª ed.). LTC.
Brick, E. M., Pernambuco, M. M. C. A., Silva, A. F. G., & Delizoicov, D. (2014). Paulo Freire: interfaces entre Ensino de Ciências Naturais e Educação do Campo. In M. C. Molina (Org.), Licenciaturas em Educação do Campo e o Ensino de Ciências Naturais: desafios à promoção do Trabalho Docente interdisciplinar (pp. 23–59). MDA.
Caldart, R. S. (2017). Trabalho, agroecologia e educação politécnica nas escolas do campo. In J. H. Pires, H. T. Novaes, A. Mazin & J. Lopes (Orgs.), Questão agrária, cooperação e agroecologia, vol. III (pp. 1–33). Outras Expressões.
Caporal, F. R., Paulus, G., & Costabeber, J. A. (2009). Agroecologia: uma ciência do campo da complexidade. Brasília.
Cechin, A. (2010). A natureza como limite da economia: a contribuição de Nicholas Georgescu-Roegen. Senac/Edusp.
Chaboussou, F. (1999). Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da Trofobiose (2ª ed.). L&PM.
Dagnino, R. P. (2008). Neutralidade da ciência e determinismo tecnológico: um debate sobre a tecnociência. Unicamp.
Dagnino, R. P. (2010a). Uma estória sobre Ciência e Tecnologia ou Começando pela extensão universitária. In R. P. Dagnino (Org.), Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia & Política de Ciência e Tecnologia: Alternativas para uma nova América Latina (pp. 293–324). Eduepb.
Dagnino, R. P. (2010b). Um dilema latino-americano: ciência e tecnologia para a sociedade ou adequação sócio-técnica com o povo?. In R. P. Dagnino (Org.), Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia & Política de Ciência e Tecnologia: Alternativas para uma nova América Latina (pp. 265–292). Eduepb.
Dagnino, R. P. (2019). Tecnociência solidária: um manual estratégico. Lutas Anticapital.
Delizoicov, D. (1980). Uma experiência em ensino de ciências na Guiné Bissau -Depoimento. Revista de Ensino de Física, 2(4), 57–72.
Delizoicov, D. (1982). Concepção problematizadora do ensino de ciências na educação formal (Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo).
Delizoicov, D. (1991). Conhecimento, tensões e transições (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo).
Delizoicov, D., & Auler, D. (2011). Ciência, Tecnologia e Formação Social do Espaço: questões sobre a não-neutralidade. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 4(2), 247–273.
Delizoicov, N. C., Stuani, G. M., & Delizoicov, D. (2013). Reorientação Curricular na Concepção Freiriana de Educação: análises em dissertações. Revista e-Curriculum, 3(11), 684–712.
Durán, R. F., & Reyes, L. G. (2018). En la espiral de la energía. Volumen II: Colapso del capitalismo global y civilizatorio (2ª ed.). Libros en Acción.
Freire, P. (1981). Ação cultural para a liberdade (5ª ed.). Paz e Terra.
Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido (28ª ed.). Paz e Terra.
Freire, P. (1995a). Educação na cidade. Cortez.
Freire, P. (1995b). À sombra desta mangueira. Olho d´água.
Freire, P. (1996). Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa (6ª ed.). Paz e Terra.
Freire, P. (2002). Extensão ou comunicação? (12ª ed.). Paz e Terra.
Freire, P. (2009). Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido (16ª ed.). Paz e Terra.
Georgescu-Roegen, N. (1971). The entropy law and the economin process. Harvard University.
Georgescu-Roegen, N. (1976). Energy and Economic Myths. Pergamon Press.
Guzmán, E. S. (2000). Agroecología y desarrollo rural sustentable: una propuesta desde Latino América. [Manuscrito não publicado].
Herrera, A. O. (1971). Ciencia y Política en América Latina (8 ªed.). Siglo XXI.
Herrera, A. O. (1973). Los determinantes sociales de la política científica en América latina. Política científica explícita y política científica implícita. Revista de Ciências Sociais, 13(49), 98–112.
Kuhn, T. (1998). A estrutura das revoluções científicas (5ª ed.). Perspectiva.
Lacey, H. (2008). Valores e atividade científica 1. Editora 34.
Muenchen, C. (2010). A disseminação dos três momentos pedagógicos: um estudo sobre práticas docentes na região de Santa Maria/RS (Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina). Repositório Institucional da UFSC. http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/93822
Mundaca, R. (6 de junho, 2015). El modelo convencional de producir alimentos en Chile y de la ausencia de políticas de desarrollo agrícola. Mapuexpress. https://www.mapuexpress.org/2015/06/06/el-modelo-convencional-de-producir-alimentos-en-chile-y-de-la-ausencia-de-politicas-de-desarrollo-agricola/
Nodari, R. O. (2011). Ciência precaucionária como alternativa ao reducionismo científico aplicado à biologia molecular. In M. Zanoni & G. Ferment (Orgs.), Transgênicos para quem? Agricultura, Ciência e Sociedade (pp. 39–62). MDA.
Pernambuco, M., Delizoicov, D., & Angotti, J. A. (1988). Projeto ensino de ciências a partir de problemas da comunidade. Seminário ciência integrada e/ou integração entre as ciências: teoria e prática. Rio de Janeiro, Brasil.
Pontuschka, N. (Org.). (1993). Ousadia no diálogo: Interdisciplinaridade na escola pública. Loyola.
Prigogine, I. (2009). Ciência, Razão e Paixão (2ª ed.). Livraria da Física.
Pupo, M. A. V. (2018). Por uma Ciência popular da vida: ancestralidade e agroecologia na formulação das Ciências da Natureza da Educação do Campo. Revista Brasileira Educação Campo, 3(3), 862–890. https://doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n3p862
Rosa, S. E. (2019). Educação CTS: contribuições para a constituição de culturas de participação (Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal). Repositório Institucional da UnB. https://repositorio.unb.br/handle/10482/39240
Roso, C. C. (2017). Transformações na Educação CTS: uma proposta a partir do conceito de Tecnologia Social (Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina). Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/187060
Rosset, P. (2017). A territorialização da Agroecologia na disputa de projetos e os desafios para as escolas do campo. Outras Expressões.
Rossi, E. M., Melgarejo, L., Souza, M. M. O., Ferrer, G., Talga, D., Barcelos, R. O., & Cabaleiro, F. (2020). Abelhas & Agrotóxicos: Compilação sobre as evidências científicas dos impactos dos agrotóxicos sobre as abelhas — Petição perante a Relatoria DESCA da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. (Em português).
Sábato, J. A., & Mackenzie, M. (1982). La Producción de Tecnología: autónoma o transnacional. Editorial Nueva Imagen.
Samagaia, R. (2016). Comunicação, divulgação e educação científicas: Uma análise em função dos modelos teóricos e pedagógicos (Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina). Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/169089
Santos, R. A., & Auler, D. (2019). Práticas educativas CTS: busca de uma participação social para além da avaliação de impactos da Ciência-Tecnologia na Sociedade. Ciência & Educação, 25(2), 485–503.
Silva, A. F. G. A. (2004). Construção do currículo na perspectiva popular crítica das falas significativas às práticas contextualizadas (Tese de Doutorado, Pontífica Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, São Paulo). Biblioteca Digital. https://tede2.pucsp.br/handle/handle/22098
Silva, A. R. C. (28 de dezembro, 2021). A pandemia e o agronegócio no Brasil. Le Monde Diplomatique Brasil, 14(162), 4–5. https://diplomatique.org.br/a-pandemia-e-o-agronegocio-no-brasil/
Snyders, G. (1988). A alegria na escola. Manole.
Strieder, R. B. (2012). Abordagens CTS na Educação Científica no Brasil: Sentidos e Perspectivas (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo). Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP https://teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81131/tde-13062012-112417/pt-br.php
Taibo, C. (2019). Colapso: capitalismo terminal, transição ecossocial, ecofascismo. UFPR.
Toledo, V. M., & Barrera-Bassols, N. (2015). A memoria biocultural: a importância ecológica das sabedorias tradicionais. Expressão Popular.
Varsavsky, O. (1975). Ciencia, política y cientificismo (6ª ed.). Centro Editor de América Latina.
Varsavsky, O. (1976). Por uma Política Científica Nacional. Paz e Terra.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Décio Auler
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores são responsáveis pela veracidade das informações prestadas e pelo conteúdo dos artigos.
Os autores que publicam neste periódico concordam plenamente com os seguintes termos:
- Os autores atestam que a contribuição é inédita, isto é, não foi publicada em outro periódico, atas de eventos ou equivalente.
- Os autores atestam que não submeteram a contribuição simultaneamente a outro periódico.
- Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à RPBEC o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial neste periódico.
- Os autores atestam que possuem os direitos autorais ou a autorização escrita de uso por parte dos detentores dos direitos autorais de figuras, tabelas, textos amplos etc. que forem incluídos no trabalho.
- Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (por exemplo, publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Os autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (por exemplo, em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após a publicação visando aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
Em caso de identificação de plágio, republicação indevida e submissão simultânea, os autores autorizam a Editoria a tornar público o evento, informando a ocorrência aos editores dos periódicos envolvidos, aos eventuais autores plagiados e às suas instituições de origem.
