Por uma (Est)Ética da monstruosidade Queer

Uma análise indisciplinada sobre o filme “Todos estão falando sobre o Jamie”

Autores

  • Esmael Alves de Oliveira Universidade Federal da Grande Dourados https://orcid.org/0000-0002-9235-5938
  • Letícia Carolina Pereira do Nascimento Universidade Federal do Piauí

DOI:

https://doi.org/10.35699/2237-5864.2023.41679

Palavras-chave:

Cinema., Arte Queer., Teoria Queer, (Est)Ética da Existência

Resumo

No presente ensaio, tomando como lócus de análise o filme “Todos estão falando sobre o Jamie” (Everybody’s Talking About Jamie) e inspiradas pelas autoras e autores do Pós-Estruturalismo, da teoria Queer e do Transfeminismo, nos propomos pensar e problematizar qual o lugar das normatividades na experiência escolar e de vida das pessoas que experimentam a condição de dissidência sexual e/ou de gênero. Aqui a imagem fílmica é compreendida como um artefato cultural, ou seja, como um constructo sócio-histórico cuja inteligibilidade produz não apenas sentidos mas deseja impor modelos. Em nossa tessitura, o personagem principal Jamie e suas vivências no interior da escola, e para além dela, emergem como um índice de contestação e resistência contra as normatividades. Acreditamos que a existência e a arte Queer materializada no personagem principal da trama atestam uma micropolítica da (re)existência que, apesar de toda parafernália normativa, institui-se como uma (est)ética da existência Queer radical face aos regimes de verdades alicerçados na heterossexualidade compulsória e no binarismo de gênero.

Biografia do Autor

Esmael Alves de Oliveira, Universidade Federal da Grande Dourados

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e em Psicologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/UFAM) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Realizou Estágio de Pós-doutorado em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é professor Adjunto III da Universidade Federal da Grande Dourados onde atua nos cursos de Ciências Sociais e de Psicologia, e nos Programas de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) e em Antropologia (PPGAnt).

Letícia Carolina Pereira do Nascimento, Universidade Federal do Piauí

Mulher Travesti, Negra e Gorda. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI/PPGEd). Formada em Pedagogia (UFPI/Parnaíba). Professora do curso de Pedagogia da UFPI, na área de Metodologias de Ensino e Estágio Supervisionado. É ativista social atuando como co-fundadora e articuladora do Acolhe Trans e junto a coordenação executiva nacional do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS). Vinculada aos seguintes núcleos: Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Gênero e Cidadania (NEPEGECI/UFPI); a Rede Interdisciplinar de Mulheres Acadêmicas do Semiárido (RIMAS/UFRPE); e ao Políticas do Corpo e Diferenças (POCs/UFPEL).

Referências

ADAD, Shara Jane Holanda Costa; NASCIMENTO, Letícia Carolina Pereira do; MARTINS, Lucivando Ribeiro. Aprendizagem na educação e as diferenças – resistência ao heteroterrorismo cultural: que só os beijos te tapem a boca. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, Vargem Grande Paulista, v. 9, n. 8, p. 1-24, 2020. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5928 Acesso em: 13 fev. 2022.

ANZALDUA, Gloria. Como domar uma língua selvagem. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Difusão da língua portuguesa, Niterói, n. 39, p. 297-309, 2009. Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/document/view/12544587/como-domar-uma-lingua-selvagem-gloria-anzaldua-uff Acesso em: 13 fev. 2022.

BALESTRIN, Patrícia Abel. Gênero e sexualidade no cinema: questões para a educação. In: XAVIER FILHA, Constantina (org.). Educação para a sexualidade, equidade de gênero e para a diversidade sexual. Campo Grande: UFMS, 2009.

BENTO, Berenice. Apresentação. In: LEITE JR, Jorge. Nossos corpos também mudam: A invenção das categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2011. p. 15-23.

BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.

BIEHL, João. Antropologia do devir: psicofármacos – abandono social – desejo. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 413-449, 2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27285 Acesso em: 13 fev. 2022.

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CAETANO, Marcio et al. “A ferro e fogo”: questionamentos à linguagem e aos corpos educados. In: Lorena Lima de Moraes; Larissa de Pinho Cavalcanti. (Orgs). Deslocamentos e Permanências: trabalho, educação e interseccionalidades. Campinas/SP: Pontes Editores, 2022. p. 223-241.

CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU. Vera Maria. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 13-37.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: o poder da autodefinição. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. p. 271-310.

CORNEJO, Giancarlo. Por uma pedagogia Queer da amizade. Áskesis, São Carlos, v.4, n.1, 2015. p. 130-142. Disponível em: http://www.revistaaskesis.ufscar.br/index.php/askesis/article/view/47 Acesso em: 28 out. 2022.

HALBERSTAM, Jack. A arte Queer do fracasso. Recife: Cepe, 2020.

LANZ, Letícia. O corpo da roupa: a pessoa transgênera entre a conformidade e a transgressão das normas de gênero. Uma introdução aos estudos transgêneros. 2. ed. Curitiba: Movimento Transgente, 2017.

LEITE JR, Jorge. Nossos corpos também mudam: a invenção das categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2011.

LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

NASCIMENTO, Letícia Carolina Pereira do. Transfeminismo. São Paulo: Editora Jandaíra, 2021a.

NASCIMENTO, Letícia Carolina Pereira do. Monstra-Florescer: feminilizando práticas educativas. In: ADAD, Shara Jane Holanda; LIMA, Joana D’Arc de Sousa; BRITO, Antônia Edna. (org.). Práticas educativas: múltiplas experiências em educação. Fortaleza, CE: EdUECE, 2021b. p. 286-306.

OLIVEIRA, Esmael Alves de; DUQUE, Tiago. Algumas reflexões indisciplinadas sobre “Diversidade”, Diferença e “Inclusão”. In: ALMEIDA, Denise Mesquita de Melo; ZANON, Regina Basso; FEITOSA, Lígia Cavalcante; ANACHE, Alexandra Ayache (org.). Psicologia, Educação e Trabalho: inclusão em diferentes contextos. Curitiba: CRV, 2021. v. 1. p. 109-118.

OLIVEIRA, Esmael Alves de; MARTINS, Catia Paranhos; NASCIMENTO, Letícia Carolina do. “Laerte-se” e Tomboy: convites às experimentações de si. Revista Ambivalências, v. 7, n. 13, p. 109-126, 2019. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/Ambivalencias/article/view/11289 Acesso em: 13 fev. 2022.

PRECIADO, Paul B. Quem defende a criança queer? In: PRECIADO, Paul B. Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020a. p. 69-73.

PRECIADO, Paul. Eu sou o monstro que vos fala. Tradução Sara York. Revista Palavra Solta, 2020b. Disponível em: https://www.revistaapalavrasolta.com/post/eu-sou-o-monstro-que-vos-fala Acesso em: 13 fev. 2022.

PRECIADO, Paul B. Carta de um homem trans ao antigo regime sexual. In: PRECIADO, Paul B. Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020c. p. 312-317.

PRECIADO, Paul B. Um apartamento em Urano: Crônicas da travessia. Rio de Janeiro: Zahar, 2020d.

PRECIADO, Paul. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 11-20, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/yvLQcj4mxkL9kr9RMhxHdwk/ Acesso em: 13 fev. 2022.

ROSEIRO, Steferson Zanoni; RODRIGUES, Alexsandro; CAETANO, Marcio. “Era uma vez nenhuma” ou os descabidos contos de fadas de uma professora sem modos e uma criança desbocada. REBEH – Revista Brasileira de Estudos da Homocultura, Cuiabá, v. 4, n. 13, p. 33-55, 2021. https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rebeh/article/view/11327 Acesso em: 13 fev. 2022.

VERGUEIRO, Viviane. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Orientador: Djalma Thürler. 2015. 244f. Dissertação (Mestrado em Cultura e Sociedade) – Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

XAVIER FILHA, Constantina. Luz, câmera, ação… Problematizando sexualidades, gênero e infâncias no cinema: desejo de ‘desver’ o mundo. In: XAVIER FILHA, Constantina (org.). Sexualidades, gênero e infâncias no cinema. Campo Grande: UFMS, 2014. p. 9-14.

Downloads

Publicado

2023-04-06

Como Citar

OLIVEIRA, E. A. de; NASCIMENTO, L. C. P. do. Por uma (Est)Ética da monstruosidade Queer: Uma análise indisciplinada sobre o filme “Todos estão falando sobre o Jamie”. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, v. 13, n. 27, p. 91–116, 2023. DOI: 10.35699/2237-5864.2023.41679. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistapos/article/view/41679. Acesso em: 21 nov. 2024.