O algoritmo é um texto
DOI:
https://doi.org/10.1590/1983-3652.2025.58505Palavras-chave:
Algoritmo, Textualidade, Inteligência ArtificialResumo
Neste ensaio, defendo que os algoritmos podem e devem ser lidos como textos performativos, cujas ações discursivas organizam sentidos, moldam interações e impactam práticas sociais. A partir de uma concepção contemporânea da Linguística Textual, que compreende o texto como atividade situada, interacional, cognitiva e multimodal (Koch, 2006; Marcuschi, 2008; Beaugrande, 1997), argumento que os algoritmos não são apenas instruções codificadas, mas formas de textualização que exercem poder simbólico e pragmático no mundo. Para sustentar essa hipótese, analiso duas simulações algorítmicas escritas em linguagem de programação: um modelo de preparo de café e um sistema de recomendação de conteúdo em plataformas de streaming. Nessas análises, demonstro como fatores de textualidade como coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e intertextualidade se realizam como efeitos emergentes de processos comunicativos mediados por código. Ao deslocar o foco dos critérios estruturais para os modos de produção de sentido, mostro que os algoritmos não apenas compartilham traços textuais com os discursos humanos, mas também produzem interpretações, respostas e experiências. Concluo que reconhecer os algoritmos como textos permite submetê-los a uma leitura crítica e ética, capaz de revelar suas ideologias embutidas e reivindicar a transparência e reescrita dos códigos que orientam a vida digital contemporânea.
Downloads
Referências
ALHASNAWI, Bilal Naji et al. A new methodology for reducing carbon emissions using multi-renewable energy systems and artificial intelligence. Sustainable Cities and Society, v. 114, p. 105721, 2024. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2210670724005468. Acesso em: 16 jun. 2025.
ARAÚJO, J. Racismo algorítmico e microagressões nas redes sociais. Domínio de Lingu@gem, Uberlândia, v. 18, p. 1–37, 2024.
ARAÚJO, J. Necroalgoritmização: notas para definir o racismo algorítmico. São Paulo: Mercado de Letras, 2025.
ARAÚJO, J.; ARAÚJO, J. Racismo algorítmico e inteligência artificial: uma análise crítica multimodal. Revista Linguagem em Foco, v. 16, n. 2, p. 89–109, 2024.
BARTHES, Roland. Aula. Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1978.
BEAUGRANDE, Robert-Alain de. A New foundations for a science of text and discourse: cognition, comunication, and the freedom of access to knowledge and society. Norwood: Ablex Publishing Corporation, 1997.
BEAUGRANDE, Robert-Alain de; DRESSLER, W. U. Introduction to Text Linguistics. London: Longman, 1981. p. 270. (Longman Linguistics Library).
BRIN, Sergey; PAGE, Larry. The anatomy of a large-scale hypertextual web search engine. Computer Networks and ISDN Systems, v. 30, n. 1-7, p. 107–117, 1998. Disponível em: http://ilpubs.stanford.edu:8090/361/1/1998-8.pdf. Acesso em: 16 jun. 2025.
BUOLAMWINI, Joy; GEBRU, Timnit. Gender shades: intersectional accuracy disparities in commercial gender classification. In: PROCEEDINGS of Machine Learning Research. [S. l.: s. n.], 2018. v. 81, p. 1–15. Disponível em: http://proceedings.mlr.press/v81/buolamwini18a.html. Acesso em: 16 jun. 2025.
CRAWFORD, Kate. Atlas of AI: power, politics, and the planetary costs of artificial intelligence. New Haven: Yale University Press, 2021.
FARRIES, Elizabeth; KERRIGAN, Páraic; SIAPERA, Eugenia. The platformisation of cancel culture. Television & New Media, p. 15274764241277469, 2024. DOI: 10.1177/15274764241277469.
GARCÍA-CANCLINI, Nestor. Cidadãos substituídos por algoritmos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2021.
HALLIDAY, Michael Alexander K.; HASAN, Ruqaiya. Cohesion in English. London: Longman, 1976. p. 374. (English Language Series).
HILL, Robin K. What an Algorithm Is. Philosophy & Technology, v. 29, n. 1, p. 35–59, 2016. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s13347-014-0184-5. Acesso em: 16 jun. 2025.
JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. Tradução: José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1960.
KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à Linguística Textual. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
LOYA, José. Racial stratification among latinos in the mortgage market. Race and Social Problems, v. 14, p. 39–52, 2022. DOI: 10.1007/s12552-021-09326-3.
LUDERMIR, Teresa Bernarda. Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina: estado atual e tendências. Estudos Avançados, São Paulo, v. 35, n. 101, p. 85–94, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/wXBdv8yHBV9xHz8qG5RCgZd/. Acesso em: 16 jun. 2025.
MARCUSCHI, Luís Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
NOBLE, Umoja Safiya. Algoritmos da opressão: como o Google fomenta e lucra com o racismo. Tradução: Felipe Damorim. Santo André: Rua do Sabão, 2021.
O’NEIL, Cathy. Algoritmos de destruição em massa: como o big data aumenta a desigualdade e ameaça a democracia. Tradução: Rafael Abraham. Santo André: Rua do Sabão, 2020.
ONWUEGBUZIA, Anthony Victor. Digital disparities: how artificial intelligence can facilitate anti-black racism in the US healthcare sector. International Relations, v. 12, n. 1, p. 40–50, 2024. DOI: 10.17265/2328-2134/2024.01.005.
PASQUALE, Frank. The Black Box Society: the secret algorithms that control money and information. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2015.
SANTAELLA, Lúcia. A inteligência artificial é inteligente? São Paulo: Edições 70, 2023.
SETZER, Valdemar Waingort; CARVALHEIRO, Fábio Henrique. Algoritmos e sua análise (uma introdução didática). São Paulo: IME-USP, 1992. Disponível em: https://repositorio.usp.br/directbitstream/04e5b2e5-8633-4286-b5e1-774e4e71aa6f/837573.pdf. Acesso em: 16 jun. 2025.
SILVA, Tarcízio Roberto. Racismo algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais. São Paulo: Edições SESC, 2022.
Downloads
Publicado
Declaração de Disponibilidade de Dados
Declaro que os dados utilizados na pesquisa descrita no ensaio "O algoritmo é um texto" estão sob minha guarda e poderão ser disponibilizados mediante solicitação. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail: araujo@ufc.br.
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Julio Araujo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este é um artigo em acesso aberto que permite o uso irrestrito, a distribuição e reprodução em qualquer meio desde que o artigo original seja devidamente citado.