Não Tem Saída Fácil: Tensão Entre Autonomia Epistêmica e Confiança na Ciência Como Caminho Para a Educação em Ciências Contemporânea

Autores

DOI:

https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2024u427490

Palavras-chave:

mutações climáticas, cinema, Questões Sociocientíficas, Cosmopolítica

Resumo

Neste artigo, apresentamos um estudo empírico que tem como objetivo geral problematizar a tensão entre autonomia epistêmica e confiança na ciência, bem como os compromissos epistêmico-políticos de diferentes correntes sociológicas, partindo de noções do campo da Cosmopolítica. Para tanto, os pesquisadores analisaram o problema do aquecimento global antropogênico a partir de argumentos apresentados em documentários sobre o tema. Na sequência, tais argumentos foram mobilizados em uma disciplina de licenciatura em Física em uma unidade que culminou em um júri simulado. Foram analisadas, além dos documentários, respostas a questionários além da transcrição do júri simulado. Os resultados indicam que ambos os documentários mobilizam argumentos naturais, sociais e discursivos (no sentido atribuído por Latour). Não é possível, ademais, se posicionar sobre o tema somente com os dados dos documentários. Portanto, a decisão de qual lado apoiar demanda algum nível de confiança nos dados que são encontrados ao longo da consulta sobre o tema. No júri simulado, os principais resultados apontam que (1) o domínio de conceitos científicos é fundamental para a ocorrência do debate — ainda que não faça sentido definir um currículo mínimo para Educação em Ciências, (2) a confiança na ciência tem um papel crucial no resultado final ainda que seja necessário o desenvolvimento da autonomia epistêmica (3) há necessidade de criação de espaços interinstitucionais para debate de questões sociocientíficas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Allchin, D. (2022). Who speaks for science?. Science & Education, 31(6), 1475–1492. https://doi.org/10.1007/s11191-021-00257-4

Allchin, D., Bergstrom, C. T., & Osborne, J. (2024). Transforming Science Education in an Age of Misinformation. Journal of College Science Teaching, 53(1), 40–43. https://doi.org/10.1080/0047231X.2023.2292409

Auler, D., & Delizoicov, D. (2001). Alfabetização científico-tecnológica para quê?. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), 3(2), 122–134. https://doi.org/10.1590/1983-21172001030203

Auler, D., & Delizoicov, D. (2006). Educação CTS: articulação entre pressupostos do educador Paulo Freire e referenciais ligados ao movimento CTS. Seminário Ibérico CTS no ensino das ciências: las relaciones CTS en la Educación Científica, 4, 1–7.

Bachelard, G. (1996). A formação do espírito científico. Contraponto.

Blancke, S., & Boudry, M. (2022). “Trust Me, I’ma Scientist” How Philosophy of Science Can Help Explain Why Science Deserves Primacy in Dealing with Societal Problems. Science & Education, 31(5), 1141–1154. https://doi.org/10.1007/s11191-022-00373-9

Bloor, D. (1982). Sociologie de la logique ou es limites de l’épistemoogie. Éditions Pandora.

Bloor, D. (1991). Knowledge and Social Imagery. The University of Chicago Press.

Bloor, D. (1999). Anti-Latour. Studies History and Philosophy of Science, 30(1), 81–112. https://doi.org/10.1016/S0039-3681(98)00038-7

Contreras, J. (2002). A autonomia de professores. Cortez.

Collins, H. M., & Evans, R. (2002). The third wave of science studies: Studies of expertise and experience. Social Studies of Science, 32(2), 235–296. https://doi.org/10.1177/0306312702032002003

Coutinho, F. A., & Silva, F. A. R. (2016). Sequências didáticas: propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas. UFMG: FAE.

Deconto, D. C. S. (2014). A perspectiva ciência, tecnologia e sociedade na disciplina de metodologia do ensino de física: um estudo na formação de professores à luz do referencial sociocultural (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul). Lume: Repositório Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. http://hdl.handle.net/10183/109803

Fensham, P. J. (2014). Scepticism and trust: two counterpoint essentials in science education for complex socio-scientific issues. Cultural Studies of Science Education, 9, 649–661. https://doi.org/10.1007/s11422-013-9560-1

Freire, P. (2014). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e terra.

Fröhlich, C. (2007). Solar irradiance variability since 1978: Revision of the PMOD composite during solar cycle 21. Solar Variability and Planetary Climates, 125, 53–65. https://doi.org/10.1007/s11214-006-9046-5

Green, J., & Bloome, D. (2004). Ethnography and ethnographers of and in education: A situated perspective. In J. Flood, D. Lapp, & S. B. Heath (Eds.), Handbook of research on teaching literacy through the communicative and visual arts (pp. 181–202). Routledge.

Guerra, A., & Moura, C. B. D. (2022). História da Ciência no ensino em uma perspectiva cultural: revisitando alguns princípios a partir de olhares do sul global. Ciência & Educação (Bauru), 28, e22018. https://doi.org/10.1590/1516-731320220018

Herman, B. C., Clough, M. P., & Rao, A. (2022). Socioscientific issues thinking and action in the midst of science-in-the-making. Science & education, 31, 1–35. https://doi.org/10.1007/s11191-021-00306-y

Herrera, A. (2000). Civilização ocidental não dá respostas à crise atual. In R. Dagnino (org.), Um intelectual latino-americano (pp. 141–146). UNICAMP/IG/DPCT.

Jasanoff, S., & Simmet, H. R. (2017). No funeral bells: Public reason in a ‘post-truth’age. Social Studies of Science, 47(5), 751–770. https://doi.org/10.1177/0306312717731936

Jasanoff, S., Hilgartner, S., Hurlbut, J. B., Özgöde, O., & Rayzberg, M. (2021). Comparative Covid response: crisis, knowledge, politics. CompCoRe Network, Cornell University. https://www.hks.harvard.edu/publications/comparative-covid-response-crisis-knowledge-politics

Junges, A. L., & Espinosa, T. (2020). Ensino de ciências e os desafios do século XXI: entre a crítica e a confiança na ciência. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 37(3), 1577–1597. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1577

Junges, A. L., & Massoni, N. T. (2018). O consenso científico sobre aquecimento global antropogênico: considerações históricas e epistemológicas e reflexões para o ensino dessa temática. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 18(2), 455–491. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2018182455

Kincheloe, J. L., & Tobin, K. (2009). The much exaggerated death of positivism. Cultural Studies of Science Education, 4, 513–528. https://doi.org/10.1007/s11422-009-9178-5

Kopp, G., Lawrence, G., & Rottman, G. (2005). The total irradiance monitor (TIM): science results. Solar Physics, 230, 129–139. https://doi.org/10.1007/s11207-005-7433-9

Latour, B. (1999). Science’s Blood Flow: An Example from Joliot’s Scientific Inteligence. In B. Latour, Pandora’s Hope: Essays on the reality of science studies (pp. 80–112). Harvard University Press.

Latour, B. (2001). Gabriel Tarde and the End of Sociocultural. In P. Joyce (Ed.), The Social in Question. New Bearings in History and the Social Sciences (pp. 117–132). Routledge.

Latour, B. (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor Network Theory. Oxford University Press.

Latour, B. (2013). Jamais Fomos Modernos. Editora 34.

Latour, B. (2016). Cogitamus: Seis Cartas Sobre as Humanidades Científicas. Editora 34.

Latour, B. (2017). A Esperança de Pandora - Ensaios Sobre a Realidade Dos Estudos Das Ciências. Editora da UNESP.

Latour, B. (2018). Qual Cosmos, Quais Cosmopolíticas? Comentário Sobre as Propostas de Paz de Ulrich Beck. Revista Do Instituto de Estudos Brasileiros, (69), 427–441. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901x.v0i69p427-441

Latour, B. (2019). Políticas Da Natureza: Como Associar as Ciências à Democracia (3ª ed.). Unesp.

Latour, B. (2020). Onde Aterrar? Como Se Orientar Politicamente No Antropoceno?. Bazar do Tempo.

Latour, B., & Woolgar, S. (1997). A Vida de Laboratório: A Produção Dos Fatos Científicos. Relume Dumará.

Lemke, J. (2011). The secret identity of science education: Masculine and politically conservative?. Cultural Studies of Science Education, 6, 287–292. https://doi.org/10.1007/s11422-011-9326-6

Lima, N. W., & Nascimento, M. M. (2022). Not only why but also how to trust science: Reshaping science education based on science studies for a better post-pandemic world. Science & Education, 31, 1363–1382. https://doi.org/10.1007/s11191-021-00303-1

Lima, N. W., Vazata, P. A. V., Ostermann, F., & Cavalcanti, C. J. D. H. (2019). Educação em ciências nos tempos de pós-verdade: reflexões metafísicas a partir dos estudos das ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 19, 155–189. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2019u155189

Massi, L., Agostini, G., & Nascimento, M. M. (2021). A teoria dos campos de Bourdieu e a educação em ciências: possíveis articulações e apropriações. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 21, e24691, 1–29. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2021u383411

Moura, C. B., Nascimento, M. M., & Lima, N. W. (2021). Epistemic and Political Confrontations Around the Public Policies to Fight COVID-19 Pandemic: What can Science Education learn from this episode?. Science & Education, 30, 501–525. https://doi.org/10.1007/s11191-021-00193-3

Pacey, A. (1990). La Cultura de la Tecnología. Fondo de Cultura Económica.

Pereira, A. A. G., & dos Santos, C. A. (2022). Proposta teórico-conceitual para a análise da confiabilidade e credibilidade de (des) informações científicas nas mídias: implicações para o Ensino de Ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 39(3), 688–711. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2022.e83882

Pigozzo, D., & Nascimento, M. M. (2023). Uma exploração antropológica do rastro digital da CPI da Pandemia para a educação em ciências. Ensino e Tecnologia em Revista, 7(1), 379–393. http://dx.doi.org/10.3895/etr.v7n1.16707

Pietrocola, M., Rodrigues, E., Bercot, F., & Schnorr, S. (2021). Risk society and science education: Lessons from the Covid-19 Pandemic. Science & Education, 30(2), 209–233. https://doi.org/10.1007/s11191-020-00176-w

Pinhão, F., & Martins, I. (2016). Cidadania e ensino de ciências: questões para o debate. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), 18(3), 9–29. https://doi.org/10.1590/1983-21172016180301

Thuillier, P. (1989). O contexto cultural da ciência. Ciência Hoje, 9(50), 18–23.

Sasseron, L. H. (2018). Ensino de ciências por investigação e o desenvolvimento de práticas: uma mirada para a base nacional comum curricular. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 18(3), 1061–1085. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec20181831061

Scarpa, D. L., Sasseron, L. H., & Silva, M. B. (2017). O ensino por investigação e a argumentação em aulas de ciências naturais. Tópicos Educacionais, 23(1), 7–27. https://doi.org/10.51359/2448-0215.2017.230486

Sedano, L., & de Carvalho, A. M. P. (2017). Ensino de ciências por investigação: oportunidades de interação social e sua importância para a construção da autonomia moral. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 10(1), 199–220. https://doi.org/10.5007/1982-5153.2017v10n1p199

Venturini, T. (2010). Diving in magma: how to explore controversies with actor-network theory. Public Understanding of Science, 19(3), 258–273. https://doi.org/10.1177/0963662509102694

Woolgar, S. (1982). Laboratory Studies: A Comment on the State of the Art. Social Studies of Science, 12(4), 481–498. https://www.jstor.org/stable/284825

Zeidler, D. L., Sadler, T. D., Simmons, M. L., & Howes, E. V. (2005). Beyond STS: A research‐based framework for socio scientific issues education. Science Education, 89(3), 357–377. https://doi.org/10.1002/sce.20048

Downloads

Publicado

2024-05-22

Como Citar

Gois, E., Lima, N. W., & Moraes , A. G. de. (2024). Não Tem Saída Fácil: Tensão Entre Autonomia Epistêmica e Confiança na Ciência Como Caminho Para a Educação em Ciências Contemporânea. Revista Brasileira De Pesquisa Em Educação Em Ciências, e49070, 1–64. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2024u427490

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)