O presente dossiê é inspirado na indissociabilidade entre os sentidos, apreensão e simbolização sensível das coisas ao nosso redor, que desse ponto de vista se recusa à divisão das tarefas sensoriais (ver, ouvir, tocar....) no ato de produzir conhecimento. Steve Feld defini o som como “um sistema abstrato e arbitrário de representações fonêmicas e fonéticas, mas como um sistema que motiva tanto a relação entre sensação e conhecimento perceptivo do mundo quanto a capacidade de engajamento quase imediato, simultaneamente abstrato e sensorial com o mundo” (2020). Tais percepções amparadas nos sentidos, que animam os corpos, nascem dos órgãos (olhos, ouvidos) que se colocam à disposição não apenas como artefatos ou “instrumentos de reprodução” e aferição representacional de realidades externas, mas como meios de observação e percepção de mundos inventados por nós. E na medida em que é por intermédio dos sentidos que nos movemos (caminhando, pulando, cantando, jogando) em estreita interrelação simbólica, constituímos culturas e modos de vida singulares e relacionais, que em atos contínuos sempre nos colocam vendo, ouvindo, olhando, falando, tocando, cheirando.
Publicado: 26-05-2023