Vol. 9 No. 17 (2015): Família e infância na cultura judaica
Apresentação
Lyslei Nascimento (Universidade Federal de Minas Gerais)
A infância e a família são temas especialmente instigantes na tradição judaica. O dossiê n. 17 da Arquivo Maaravi: Revista Digital do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG traz desde reflexões bíblicas de caráter religioso sobre a primeira família, sua origem e constituição, até as relações parentais conformadas no Éden e pós-Queda. Essas narrativas determinam arquétipos e mitos que sobrevivem na literatura e em outras artes em todos os tempos. Tanto os clãs que se confundem com a tribo, a fundação das cidades, os crimes, delitos e transgressões que norteiam essas laços familiares na Bíblia, quanto a migração desses temas para a ficção, permeiam genealogias e tradições marcadas por ligações sanguíneas, afetivas e de propriedade. Quase ausente no texto bíblico, a infância é, na maioria das vezes, anônima e sujeita a perseguições e mortes, sacrificiais ou políticas. Na modernidade, a criança também é representada como uma vítima das guerras, da Inquisição, da Shoah. Há, no entanto, contemporaneamente, uma ficção que traz, para o primeiro plano, a infância e a família com suas singularidades. Bashevis Singer, Adão Voloch, Elisa Lispector, Ilse Losa, Samuel Rawet, Miguel Torga, além de Carlos Drummond de Andrade e Michael Laub são alguns dos escritores que, com um olhar – lírico, idealizado, às vezes também, cáustico e, por vezes, irônico, constroem esse mundo em que infância e família são um inquietante motivo literário.