SOFRIMENTO NO TRABALHO E ESTRATÉGIAS DOS PROFESSORES CONTRA O ADOECIMENTO PSÍQUICO
DOI:
https://doi.org/10.35699/2238-037X.2022.38580Palavras-chave:
Trabalho e educação, Trabalho docente, Psicodinâmica do trabalhoResumo
Tendo como base estudo realizado com docentes da rede pública estadual que trabalham em uma cidade de porte médio da região Sul do estado do Rio Grande do Sul, o artigo discute o prazer e o sofrimento no trabalho, destacando, em especial, as estratégias de defesa e as estratégias de enfrentamento desenvolvidas pelas professoras para atenuar o sofrimento. O artigo se justifica pela necessidade de ampliação e aprofundamento de pesquisas que busquem compreender os mecanismos mobilizados pelos trabalhadores para suportar e enfrentar os efeitos degradantes do trabalho em sua saúde mental. Apoiado na teoria da Psicodinâmica do Trabalho e na perspectiva histórico-crítica da educação, o estudo centrou-se nos mecanismos mentais ou comportamentais, conscientes ou inconscientes, que, frente às características do trabalho produtoras de sofrimento, denotam a participação ativa dos sujeitos na defesa da preservação de sua saúde mental e sua luta contra a descompensação psíquica. A pesquisa teve caráter qualitativo e contou com a participação de seis professoras e um professor que foram entrevistados de forma individual. A discussão dos dados tomou como base o método da análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa revelam estratégias elaboradas para preservar a saúde mental, tais como a negação, a autorepressão e a rotinização, caracterizadas como estratégias de defesa, e os pequenos afastamentos e estratégias de gestão do tempo, como estratégias de enfrentamento.
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