Manifestações de Sexismo em Aulas de Ciências em Decorrência do Humor Como Estratégia Pedagógica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2024u355377

Palavras-chave:

Humor, Sexismo, Gênero, Formação de Professores

Resumo

O objetivo deste artigo é compreender como as relações de poder se constituem na emergência do sexismo em aulas de Ciências do Ensino Fundamental a partir do uso do humor como estratégia pedagógica. A metodologia consistiu em uma bricolagem engendrada por elementos da etnografia educacional e da análise de discurso. As ferramentas da etnografia utilizadas foram a observação imersiva, a descrição densa e a entrevista semiestruturada. Uma turma de oitavo ano foi acompanhada por dez meses e, em dezoito aulas, o/a docente lançou mão do humor como estratégia pedagógica reverberando em acontecimentos marcados pelo sexismo. A descrição densa dessas aulas passou por uma leitura frisada por princípios da análise do discurso de inspiração foucaultiana. Observou-se que, uma vez instaurado nas aulas, o sexismo promove uma série de afetações sobre os sujeitos e relações de poder marcadas pelo dimorfismo sexual, a rivalidade entre o feminino e masculino e a superioridade do masculino sobre o feminino. As condições inerentes a manifestações do sexismo estão atrelados à ação docente e os efeitos produzidos nos sujeitos escapam do controle do/ professor/a, podendo produzir, por exemplo, constrangimentos. Desse modo, o artigo contribui para o debate sobre a desnaturalização das questões de gênero na presença do humor como estratégia pedagógica em aulas de Ciências.

Biografia do Autor

  • Bárbara Elisa Santos Carvalho Luz, Universidade Federal de Minas Gerais

    Doutora em Educação pela UFMG, Mestra em Educação pela UFMG, Pós Graduada em Educação Ambiental pelo Senac Minas e Licenciada em Ciências Biológicas pela UFMG. Professora da Educação Básica e pesquisadora em Educação desde 2010. 

  • Silvania Sousa do Nascimento, Universidade Federal De Minas Gerais

    Graduada em Fisica pela UFMG (1983), mestre em Ensino de Ciências (Modalidade Física e Química) pela Universidade de São Paulo (1990), doutora em Didática das Disciplinas de Ciências e Tecnologias pela Université Paris VI (1999) e com Pós-doutorado em Educação pela UNICAMP (2008-2009). Participou com professora visitante em diferentes momentos em universidades européias (École Normale Superieur de Lettres et Sciences Humaines de Lyon, Université de Lyon) e na Universidade de Padova. É Professora Titular, aposentada e voluntária no Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG. Ocupou o cargo de Superintendente de Museus da Secretaria de Estado da Cultura de MG (2005-2007), de Secretária para Assuntos de Ensino da Sociedade Brasileira de Física (2011-2013), e de Diretora de Divulgação Científica da Pro Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais de 2010 até 2018. Tem como áreas de interesse a Educação em espaços escolares e não escolares, com pesquisas principalmente nos temas de comunicação pública das ciências, ensino de ciências, formação de professores de ciências, museus de ciências e educação patrimonial. 

Referências

Almeida, E. A. E., Franzolin, F., & Maia, R. A. (2020). Intencionalidade das Ações Pedagógicas à Desconstrução de Estereotipias de Gênero nas Aulas de Ciências Naturais. Ciência & Educação (online), 26, 1–17. https://doi.org/10.1590/1516-731320200048

Bujes, M. I. E. (2002). Descaminhos. In M. V. Costa (Org.), Caminhos investigativos II: Outros modos de pensar e fazer pesquisa em Educação (pp. 13–34). Lamparina.

Butler, J. (2012). Problemas de gênero. Civilização Brasileira.

Cardoso, L. R. (2018). Relações de gênero nos materiais curriculares de Ciências: O Programa Nacional de Livro Didático de Ciências em questão. In M. A. Paraíso, & M.C. S. Caldeira (Orgs.), Pesquisa sobre currículos, gêneros e sexualidades (pp. 93–114). Mazza.

Cassiani, S. (2020). Para resistir, (re) existir, (re) inventar a educação científica e tecnológica: Buscando caminhos em prol dos direitos humanos e da terra. Boletim da AIA-CTS, (13), 17–20.

Castro, E. (2016). Vocabulário de Foucault um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Autêntica.

Coelho, L. J., & Campos, L. M. L. (2015) Diversidade sexual e ensino de Ciências: buscando sentidos. Ciência & Educação (online), 21(4), 893–910. https://doi.org/10.1590/1516-731320150040007

Connell, R., & Messerchmidt, J. (2013). Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos Feministas, 21(1), 241–282. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000100014

Farias, Y. M. M. (2020). “Uma canção pra você”: a música em uma proposta de Sequência Didática voltada para um ensino de biologia não sexista. Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio, 13(2), 268–288. https://doi.org/10.46667/renbio.v13i2.360

Ferreira, M. (2004). Sexismo hostil e benevolente: inter-relações e diferenças de gênero. Temas em Psicologia, 12(2), 119–126. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000200004&lng=pt&tlng=pt

Fischer, R. M. B. (2001). Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa, (114), 197–223. https://doi.org/10.1590/s0100-15742001000300009

Foucault, M. (1997). A arqueologia do saber. Forense Universitária.

Foucault, M. (1996). A ordem do discurso. Edições Loyola.

Foucault, M. (2006). Diálogo sobre o poder. In M. B. Motta (Org.), Estratégias, Poder-Saber. Ditos e Escritos IV (pp. 253–266). Forense Universitária.

Foucault, M. (1994). Dits et écrits III. Gallimard.

Foucault, M. (2003). Ditos e escritos: ética, estratégias, poder-saber (V. L. A. Ribeiro, Trad.). Forense Universitária.

Franco, L. G., & Munford, D. (2020). Aprendizagem de Ciências: uma análise de interações discursivas e diferentes dimensões espaço-temporais no cotidiano da sala de aula. Revista Brasileira de Educação, 25, e250015, 1–31. https://doi.org/10.1590/S1413-24782020250015

Franco, L. G., & Munford, D. (2023). Gênero nas aulas de Ciências: uma análise de aprendizagem conceitual. Educação em Revista, 39, e39220, 1–23. https://doi.org/10.1590/0102-469839220

Freitas, L. M., & Chaves, S. N. (2013) Desnaturalizando os gêneros: uma análise dos discursos biológicos. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, 15(3), 131–148. https://doi.org/10.1590/1983-21172013150308

Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. Atlas.

Graña, F. (2008). El asalto de las mujeres a las carreras universitarias “masculinas”: cambio y continuidad en la discriminación de género. Praxis Educativa (Arg), (12), 77–86.

Green, J., Dixon, C., & Zaharlick, A. (2005). A etnografia como uma lógica de investigação. Educação em Revista, (42), 13–79. http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982005000200002

Heerddt, B., Santos, A., Paula. O., Oliveira, A. C. B., Ferreira, F. M., Anjos, M. C., Swiech, M. J., & Banckes, T. N. (2018). Gênero no ensino de Ciências publicações em periódicos no Brasil: o estado do conhecimento. Revista Brasileira de Educação em Ciências e Educação Matemática, 2(2), 217–241. https://doi.org/10.33238/ReBECEM.2018.v.2.n.2.20020

Lips, H. (1993). Sex and gender. Mayfield.

Louro, G. L. (1995). Gênero, história e educação: construção e desconstrução. Educação e Realidade, 20(2), 101–132. https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71722

Louro, G. L. (1997). Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós estruturalista Guacira Lopes Louro. Vozes.

Marín, Y. A. O. (2018). Las experiencias de vida de personas transgénero y transexuales: Diálogos posibles con la enseñanza de las ciencias naturales. Tecné, Episteme y Didaxis: TED, (extra), 1–8. https://revistas.pedagogica.edu.co/index.php/TED/article/view/9150

Marín, Y. A. O. (2019). Problematizando el discurso biológico sobre el cuerpo y género, y su influencia en las prácticas de enseñanza de la biología. Revista Estudos Feministas, 27(3), 1–10. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n356283

Marques, P. F. (2018). Marcadores de gênero na experiência de mulheres com abortamento induzido: construção de instrumento para o cuidado (Tese de Doutorado, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia). Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/31049

Moutinho, L. (2014). Diferenças e desigualdades negociadas: raça, sexualidade e gênero em produções acadêmicas recentes. Caderno Pagu, (42), 201–248. https://doi.org/10.1590/0104-8333201400420201

Narvaz, M. G., & Koller, S. H. (2006) Famílias e patriarcado: Da prescrição normativa à subversão criativa. Psicologia e Sociedade, 18(1), 49–56. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000100007

Neira, M. G., & Lippi, B. G. (2012). Tecendo a colcha de retalhos: A bricolagem como alternativa para a pesquisa educacional. Educação & Realidade, 37(2), 607–625. https://doi.org/10.1590/s2175-62362012000200015

Oliveira, R. D. V. L., & Queiroz, G. R. P. C. (2016). Professores de Ciências como agentes socioculturais e políticos: A Articulação valores sociais e a elaboração de conteúdos cordiais. Revista Debates em Ensino de Química, 2(2), 14–31. https://www.journals.ufrpe.br/index.php/REDEQUIM/article/view/1312

Oliveira, A. W., Akerson, V. L., & Oldfield, M. (2012). Environmental argumentation as sociocultural activity. Journal of Research in Science Teaching, 49(7), 869–897. https://doi.org/10.1002/tea.21020

Pagan, A. (2018). O ser humano do Ensino de Biologia: uma abordagem fundamentada no autoconhecimento. Revista Entreideias, 7(esp.), 73–86. https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/26530/17169

Paraíso, M. A. (2012). Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação e currículo: Trajetórias, pressupostos, procedimentos e estratégias analíticas. In D. Meyer, & M. Paraíso (Org.), Metodologias de pesquisas pós-críticas em Educação (pp. 23–46). Mazza.

Rodriguez, A. (1998). The dangerous discourse of invisibility: A critique of the National Research Council’s national science education standards. Journal of Research in Science Teaching, 34(1), 19–37. https://doi.org/10.1002/(SICI)1098-2736(199701)34:1%3C19::AID-TEA3%3E3.0.CO;2-R

Roychoudhury, A., Tippins, D. J., & Nichols, S. E. (1995). Gender-inclusive science teaching: A feminist-constructivist approach. Journal of Research in Science Teaching, 32(9), 897–924. https://doi.org/10.1002/tea.3660320904

Santos, A. P. O., & Heerdt, B. (2020). Gênero, Ciência e fecundação Humana em Pauta: compreensões estabelecidas por alunos/as da educação básica durante uma intervenção didática. Bio-grafía, 13(24), 27–45. https://doi.org/10.17227/bio-grafia.vol.13.num24-12361

Santos, S. P., Silva, F. A. G., & Martins, M. M. (2021). Sexualidades e gêneros e educação em biologia menor e cartografias de suas pequenas redes em livros didáticos — PNLD/2018. Revista Diversidade e Educação, 9(esp.), 552–575. https://doi.org/10.14295/de.v9iEspecial.12626

Schnorr, S. M., & Pietrocola, M. (2022). Educação em Ciências e Matemática no Brasil: uma Revisão Sistemática de 25 Anos de Pesquisa (1994–2018). Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 22(u), e37242, 1–30. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2022u713742

Scott, J. (1991). Gênero: Uma categoria útil para a análise histórica (C. R. Dabat & M. B. Ávila, Trad.). Ávila Recife: SOS Corpo.

Scott, J. (2017). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, 20(2), 71–99. https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721

Silva, T. T. (2000). A produção social da identidade e da diferença. In T. T. Silva (Org.), Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (pp. 73–102). Vozes.

Souza, A. M. F. L. (2009). Ensino de Ciências: Onde está o gênero?. Revista Entreideias: Educação, Cultura E Sociedade, 13(3). https://doi.org/10.9771/2317-1219rf.v13i13.3025

Swiech, M. J., & Heerdt, B. (2019). Hormônios esteroides e as questões de gênero: uma análise dos livros didáticos de biologia. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, 12(1), 54–68. https://periodicos.utfpr.edu.br/rbect/article/view/9639

Tindall, T. A. & Hamil, B. (2004). Gender Disparity in Science Education: The Causes, Consequences, and Solutions. Education.

Tomé. A. G. (1999). Un camino hacia la coeducación (instrumentos de reflexión e intervención). In L. Carlos (Org.), ¿Iguales o diferentes? Género, diferencia sexual, lenguaje y educación (pp. 171-197). Ediciones Paidós Ibérica.

Tsai, C. C., & Wen, L.M.C. (2005). Research and trends in science education from 1998 to 2002: a content analysis of publication in selected journals. International Journal of Science Education, 27(1), 3–14. https://doi.org/10.1080/0950069042000243727

Tura, M. L. R. (2003). A observação do cotidiano escolar. In N. Zago, M. P. Carvalho, & R. A. Vilela (Orgs.), Itinerários de pesquisa Perspectivas qualitativas em Sociologia da Educação (pp. 183–206). DP&A Editora.

Veiga-Neto, A. (2003). Foucault & Educação. Editora Autêntica.

Viana, B. P., & Pastoriza, B. (2020) Diversidade sexual e de gênero na escola: revisando discussões no Ensino de Ciências. Revista Educar Mais, 4(2), 394–409. https://doi.org/10.15536/reducarmais.4.2020.394-409.1826

Vieira, R. D., & Nascimento, S. S. (2009). Uma visão integrada dos procedimentos discursivos didáticos de um formador em situações argumentativas de sala de aula. Ciência & Educação (online), 15(3), 443–457. https://doi.org/10.1590/S1516-73132009000300001

Werneck, A. (2015). “Dar uma Zoada”, “Botar a Maior Marra”: Dispositivos morais de jocosidade como formas de efetivação e sua relação com a crítica. Dados, 58(1), 187–222. https://doi.org/10.1590/00115258201542

Woodward, K. (2000). Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In T. Silva (Org.), Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (pp. 7–72). Vozes.

Downloads

Publicado

2024-04-29

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Manifestações de Sexismo em Aulas de Ciências em Decorrência do Humor Como Estratégia Pedagógica. (2024). Revista Brasileira De Pesquisa Em Educação Em Ciências, e48965, 1-23. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2024u355377

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)