O orador humorístico: a construção do ethos na comédia

Autores

  • Maria Flávia Figueiredo Universidade de Franca
  • Alan Ribeiro Radi Universidade de franca - Unifran

DOI:

https://doi.org/10.17851/1983-3652.9.1.48-61

Palavras-chave:

ethos, gêneros textuais, comédia de stand-up, retórica, intertextualidade.

Resumo

RESUMO: A retórica é norteada por três dimensões: o logos, o pathos e o ethos. O logos trata do discurso em si; o pathos das paixões que o orador, por meio do logos, desperta em seu auditório; e o ethos é a imagem que o orador cria de si, também por meio do logos, frente a um auditório. Os gêneros retóricos são três: deliberativo (que impulsiona o auditório ou o juiz a pensarem sobre eventos futuros, caracterizando-os como convenientes ou prejudiciais), judiciário (o auditório pensará sobre eventos já ocorridos, para classificá-los como justos ou injustos) e epidítico (o auditório julgará algum fato ocorrido, ou mesmo o caráter de uma pessoa, como belo ou não). Na esteira de Figueiredo (2014) e alicerçados em Eggs (2005), propõe-se que o ethos não seja uma marca deixada pelo orador somente nos gêneros retóricos, mas sim em qualquer gênero textual, uma vez que, sendo fruto da produção humana, as mais singelas escolhas, na construção textual, são capazes de reproduzir algo que esteja intimamente ligado ao orador, demarcando assim o seu ethos. Para investigar tal proposição, selecionamos uma mostra de um vídeo do comediante Danilo Gentili, que será analisada à luz da Retórica e da Linguística Textual. Assim, nosso objetivo é encontrar, no gênero stand-up comedy, marcas deixadas pelo orador no discurso que caracterizam seu ethos. Os resultados da análise evidenciam que ethos, gênero discursivo e propósito comunicacional se amalgamam em um complexo indissociável em que o sucesso de um interdepende da forma como o outro se construiu.

PALAVRAS-CHAVE: ethos; gêneros textuais; comédia de stand-up; retórica; intertextualidade.

  

ABSTRACT: The rhetoric is guided by three dimensions: logos, pathos and ethos. Logos is the speech itself, pathos are the passions that the speaker, through logos, awakens in his audience, and ethos is the image that the speaker creates of himself, also through logos, in front of an audience. The rhetorical genres are three: deliberative (which drives the audience or the judge to think about future events, characterizing them as convenient or harmful), judiciary (the audience thinks about past events in order to classify them as fair or unfair) and epidictic (the audience will judge any fact occurred, or even the character of a person as beautiful or not). According to Figueiredo (2014) and based on Eggs (2005), we advocate that ethos is not a mark left by the speaker only in rhetorical genres, but in any textual genre, once the result of human production, the simplest choices in textual construction, are able to reproduce something that is closely linked to speaker, thus, demarcating hir/her ethos. To verify this assumption, we selected a display of a video of the comedian Danilo Gentili, which will be examined in the light of Rhetoric and Textual Linguistics. So, our objective is to find, in the stand-up comedy genre, marks left by the speaker in the speech that characterizes his/her ethos. The analysis results show that ethos, discursive genre and communicational purpose amalgamate in an indissoluble complex in which the success of one of them interdepends on how the other was built.

KEYWORDS: ethos; textual genres; stand-up comedy; rhetoric; intertextuality.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria Flávia Figueiredo, Universidade de Franca

Doutora em Linguística pela Unesp-Araraquara e docente permanente no Programa de Mestrado em Linguística da Universidade de Franca.

Alan Ribeiro Radi, Universidade de franca - Unifran

Graduando em Letra (port/ing.) - Bolsista de IC com fomento pelo CNPq - Membro do grupo de estudos em argumentação e retórica (PARE)

Referências

ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 4. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.

ARISTÓTELES. Rhétorique. Paris. Libraire Générale Française, 1991.

ARISTÓTELES. Retórica. Trad. Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto, Abel do Nascimento Pena. 2. ed. rev. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. [1. ed., 1979]

BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos. 2. ed. São Paulo: Educ, 1999.

CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade. In: CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2013. p. 145-173. EGGS, E. Ethos aristotélico, convicção e pragmática moderna. In: AMOSSY, R. (Org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dilson F. da Cruz, Fabiana Komesu, Sírio Possenti. São Paulo: Contexto, 2005. p. 29-44.

FERRAZ, L. Caminhos retóricos e sorrisos incômodos: argumentação e humor em “A encalhada”, de Ingrid Guimarães e Aloísio de Abreu. 2015. 158 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015.

FERREIRA, L. A. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São Paulo: Contexto, 2010.

FIGUEIREDO, M. F. Pra morrer de rir: as figuras na constituição do ethos do contador de causos. In: FIGUEIREDO, M. F. et al. (Orgs.). Textos: sentidos, leituras e circulação. Franca: Unifran, 2014. p. 131-150.

FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.

DANILO Gentili Comedy Central sobre Chaves. 25 fev. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zUT_dEAhdPg. Acesso em: 15 mar. 2015.

DE FRENTE com Gabi – Danilo Gentili – 14/09/14 – completo – HD. 14 set. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_uOWdqEfPE4. Acesso em: 15 jul. 2015.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. (Educação Linguística, 2).

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: constituição e práticas sociodiscursivas. São Paulo: Cortez, 2010.

MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D. (Org.). Gêneros textuais. Bauru: Edusc, 2002. MEYER, M. A retórica. Trad. Marli M. Peres. São Paulo: Ática, 2007.

MOTTA, B. O stand-up comedy. Portal do Stand-up, [s.d.]. Disponível em: http://www.portalstandupcomedy.com.br/historia/. Acesso em: 10 abr. 2015.

REBOUL, O. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Beneditti. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

VIOTTO, M. E. da S. As concepções de gênero textual/discursivo do professor de língua portuguesa. Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Goioerê, PR, 2008. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2254-8.pdf. Acesso em: 26 mar. 2015.

Publicado

13-07-2016

Como Citar

FIGUEIREDO, M. F.; RADI, A. R. O orador humorístico: a construção do ethos na comédia. Texto Livre, Belo Horizonte-MG, v. 9, n. 1, p. 48–61, 2016. DOI: 10.17851/1983-3652.9.1.48-61. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/16713. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Linguística e Tecnologia