Verso romântico? Revisitando o decassílabo sáfico com ferramentas digitais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1983-3652.2025.55787

Palavras-chave:

Estudo quantiqualitativo, Estatística textual, Ferramentas digitais, Verso romântico, Decassílabo sáfico

Resumo

No campo dos estudos literários, o método quantiqualitativo, conhecido como estilometria literária e estatística textual, vem ganhando destaque. Esse tipo de pesquisa se caracteriza pelo uso de ferramentas computacionais no contexto da cultura digital, que realizam análises rápidas e precisas de elementos estilísticos para identificar autores, poetas e escolas literárias. Este trabalho revisa a hipótese de que o decassílabo sáfico seria uma marca distintiva da poesia romântica brasileira. Usamos a ferramenta digital Aoidos para a escansão automática dos versos, obtendo dados quantitativos sobre o tamanho e ritmo dos versos. Comparando o uso de tipos de decassílabo (sáfico, heroico e andrógino) entre quatro grupos de poetas (neoclássicos, românticos, geração de 1870 e parnasianos), verificamos que, apesar de um aumento de quase 75% no uso desse verso do século XVIII para o XIX, ele não é traço exclusivo dos poetas românticos, o que nos permite concluir que a percepção do uso exacerbado de sáficos decorre de algumas obras específicas, não de um fenômeno generalizado. Essa análise permite questionar interpretações tradicionais de autores como Antonio Candido e Péricles Eugênio da Silva Ramos, que veem no sáfico uma característica central da poesia romântica. Concluímos que a hipótese de predomínio do verso sáfico no romantismo carece de respaldo empírico, já que ele atravessa diferentes movimentos literários de maneira relativamente estável ao longo do século XIX.

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Biografia do Autor

  • Gabriel Esteves, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

    Doutor e mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).Professor da rede estadual de Santa Catarina. Pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NuPILL). Realiza Estágio Pós-Doutoral no Programa de Pós-Graduação em Literatura da UFSC.

  • Leandro Scarabelot, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

    Doutor e Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGLit-UFSC). Pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL).

  • Ana Paula Nunes de Sousa, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

    Doutoranda em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGLit-UFSC). Mestre em Literatura pelo mesmo Programa de Pós-Graduação (PPGLit-UFSC). Graduada em Letras Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA/Campus Caxias). Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL/CNPq); e do Núcleo de Pesquisa em Literatura, Arte e Mídias (LAMID/CNPq). Bolsista CNPq-Brasil.

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Publicado

09-04-2025

Como Citar

ESTEVES, Gabriel; SCARABELOT, Leandro; SOUSA, Ana Paula Nunes de. Verso romântico? Revisitando o decassílabo sáfico com ferramentas digitais. Texto Livre, Belo Horizonte-MG, v. 18, p. e55787, 2025. DOI: 10.1590/1983-3652.2025.55787. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/55787. Acesso em: 9 maio. 2025.

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